Este texto foi escrito em 1996 para a última edição publicada do jornal “Estopim”. O Estopim era um jornal feito na ETE “Lauro Gomes” escola técnica em São Bernardo do Campo, onde estudei de 1990 a 1994.
1992 foi um ano que, com certeza, marcou a história de nosso país e da ETELG. A partir de maio, escândalos do governo Collor enchiam páginas e páginas de jornais e revistas, ocupavam lugar de destaque nos telejornais do Brasil e do exterior, reascendendo uma chama há muito tempo apagada: o movimento estudantil.
Os estudantes, posteriormente chamados de “caras-pintadas”, tomaram as ruas de todo o país, inundando-as de milhões de estudantes pedindo a saída do então presidente. Em São Bernardo, não foi e nem podia ser diferente e, com certeza os estudantes da ETELG ocuparam um lugar de destaque participando de vários atos pú-blicos no ABC e em São Paulo, pedindo ética na política.
Foi no auge desta movimentação que um grupo de eteanos, bichos e veteranos, iniciaram a concretização de um antigo projeto: a criação de uma entidade na ETE que lutasse pelos direitos dos estudantes , por melhorias na escola e também esclarecesse os alunos sobre seus deveres.
A princípio, as reuniões eram feitas meio que às escondidas nos blocos 2 e 3 e no “bloco 7”, devido ao fato de que vários outros alunos já haverem tentado criar um grêmio em anos anteriores chegando mesmo a serem ameaçados de expulsão. A 1a tentativa de se formar uma Comissão Pró-grêmio foi boicotada pela direção até a convocação da 1a reunião oficial em outubro de 1992. A partir deste momento, seguiram-se inúmeras reuniões, assembléias, discussões e também confusões e brigas; foi realizado um plebiscito para que os alunos aprovassem o estatuto do grêmio, até que no dia 28 de novembro de 1992 foi oficialmente fundado o Grêmio Estudantil “Édson Luís”, numa assembléia que também instituiu uma diretoria provisória até a realização da 1a eleição.
Quando todos pensavam que a parte mais difícil do trabalho havia terminado, descobriram que agora é que ela viria. O grêmio tinha um nome, um estatuto, uma diretoria eleita pelos alunos, mas não tinha uma sede apesar do tamanho da escola e do número de salas desocupadas. Após inúmeros pedidos feitos em vão, decidiram que seria montada uma barraca na praça do bloco central que funcionaria como sede; alguns dias após esta decisão, os gremistas foram informados pelo então diretor Pedro Ravelli que a sala 300 – antiga sede da Cooperete – seria cedida ao Grêmio, o que acabou não acontecendo.
Em 1993 o Grêmio realizou sua 1a atividade apresentando a escola aos “bichos”. Neste ano também ocorreria a 1a eleição para a diretoria do Grêmio e para o conselho de representantes de habilitação. Isso significava convocar uma Assembléia Geral para formação da Comissão eleitoral, responsável pela abertura inscrição para candidatos e chapas, estabelecimento de prazos e datas de campanha e votação e confecção de cédulas e urnas. Infelizmente apenas uma chapa se inscreveu e devido a inexperiência da Comissão Eleitoral a eleição foi fraudada. Resultado: todo processo eleitoral teve que se repetir em um curto espaço de tempo. Além disso naufragava a 1a tentativa de se fazer e veicular um jornal do Grêmio: O ESTOPIM. Apesar de todas estas dificuldades incluindo a de não possuir uma sede, o Grêmio ainda conseguiu realizar uma sessão de vídeo no anfiteatro apresentando o filme “The Doors”, um debate sobre presidencialismo, parlamentarismo, república e monarquia e a partir deste ano, o grêmio passou a fornecer a “Carteirinha da UBES”, que garante ao estudante o pagamento da ½ entrada em shows, cinemas e teatros.
1994, ano de eleição para diretor. O diretor e candidato a reeleição para o cargo, Pedro Ravelli, agora cede ao grêmio uma minúscula sala no bloco central – a sala 10.1. A conquista da sede facilitou e agilizou o trabalho do grêmio, que no decorrer do ano mobilizou a escola diversas vezes levando a comunidade eteana a participar de discussões e atos por melhorias do ensino, melhores salários para os professores e diversas outras campanhas.
Após ter seu plano bienal – plano de trabalho do diretor para os 2 anos subsequentes – rejeitado pelo CEETEPS, por ser considerado insuficiente, o então diretor organizou um abaixo assinado pedindo uma reavaliação de seu plano, afirmando que havia sido elaborado por toda comunidade e convocou representantes do grêmio para que estes assinassem em nome dos estudantes da escola. Diante de tal “pedido”, os representantes solicitaram tempo para consultar a diretoria da entidade, que unanimemente recusou tal proposta uma vez que o plano não havia sido discutido com os alunos, tão pouco elaborado coletivamente. Quando informado de tal decisão, o diretor mudou completamente sua política em relação ao grêmio, iniciando uma perseguição aos seus membros, chegando mesmo a afirmar em tom de ameaça: “EU DESTRUO VOCÊS” – frase que consta nos autos da sindicância instituída para investigar a administração do diretor. Neste ano, o grêmio sentiu-se obrigado a fazer campanha pela abstenção do voto para diretor.
Após essa série de acontecimentos, na véspera da realização da eleição, os alunos Uiram Kopcak e Ricardo Guedes, juntamente com representantes de pais e professores, se dirigiram à então Coordenadora do ensino técnico do CEETEPS, Marisa Fumanti Chamon, colocando-a a par dos fatos ocorridos na ETELG. Imediatamente ela os encaminhou ao Diretor Superintendente, Elias Horani, que ouviu atentamente toda a história. Na mesma noite, foi enviado à escola documento cancelando a eleição. Contrariando a decisão do CEETEPS a votação foi iniciada e até a sua interrupção, feita em ocasião da chegada da prof. Marisa, apenas 2 alunos haviam votado, confirmando assim o sucesso da campanha feita pelo grêmio. Neste ano ainda, o grêmio organizou debate entre candidatos à deputado e realizou a 1a Festa Junina da ETELG.
1995, depois de um certo atraso para a realização da eleição da nova diretoria do Grêmio, finalmente foi instituída uma Comissão Eleitoral, que cuidou da inscrição das chapas e da organização do pleito. No 2o dia de votação, alguns alunos de MC violaram a urna, anulando, assim, a eleição e atrasando a troca de diretoria. Finalmente, conseguiu-se concluir o processo, onde apenas uma chapa se inscreveu.
Em virtude da ameaça de privatização das ETE’s, o Grêmio organizou assembléias com toda a comunidade eteana, trouxe os deputados Clóvis Volpi e Prof. Luizinho e a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do CEETEPS, Celeste para um debate sobre o mesmo tema e levou a comunidade até a Secretaria de Ciência e Tecnologia e ao CEETEPS para protestar contra isso. Realizou também a Festa Agostina (uma 2a versão da Festa Junina), organizou campeonato de Futsal, de tênis de mesa e o 1o Campeonato de Truco da ETELG. Além disso o grêmio estendeu seu trabalho de distribuição da carteirinha da UBES para diversas escolas do ABCD.
Nova eleição para diretor na ETE e o Grêmio mais uma vez encabeça a campanha de abstenção devido a irregularidade no processo eleitoral e a infeliz data da realização da votação, que se encontrava no meio da semana de V.A. Mais uma vez o Grêmio atinge seus objetivos e a eleição é anulada por falta de quorum no segmento correspondente aos alunos. Pela 1a vez em toda a sua história, o Grêmio agiu como fator determinante na alteração da história da ETELG. A atitude do Grêmio foi endossada por professores, funcionários, membros da direção e do CEETEPS.
Após este fato o grêmio foi, pela 1a vez convidado a participar de uma reunião de eleição da diretoria da APM, onde devido a sua atuação decisiva, conquistou o direito de eleger um aluno representante na mesma e um fiscal-observador.
Caminhando para o 4o ano de sua existência, o Grêmio carrega consigo, várias conquistas que necessitam ser conservadas, aprimoradas e discutidas com a participação ampla de todos. Tudo o que já foi feito, todas as dificuldades superadas até hoje podem ser poucas se comparadas às reservadas ao futuro do grêmio. Existem projetos, propostas, festas, campeonatos, jornais e clubes que podem ser viabilizados via grêmio. Se levado a sério o Grêmio Estudantil “Édson Luís” tem condições de se expandir e representar o grande potencial dos alunos da ETELG. Alunos com idéias diversas e inovadoras, alunos com capacidade de fazer valer suas vontades. Porém, para que se consiga atingir estes ideais, muitas dificuldades e barreiras precisam ser vencidas, barreiras que só serão deixadas para trás se o grêmio contar com a participação efetiva dos seus membros: os alunos.
esse texto naum tem nada a veer
isso pra mim nao foi muito bom tah
[…] No final de janeiro eu me encontrei com os colegas do Grêmio Estudantil da escola e fomos preparar a recepção dos calouros. Eu havia começado a fumar e beber. As pessoas achavam que o fato de ter perdido a minha irmã havia me abalado profundamente e eu estava me entregando à vícios e coisa e tal. É verdade que eu só parei de fumar 10 anos depois… mas depois de um porre de whisky no meu aniversário de 18 anos, eu nunca mais passei da conta com bebida. Nunca. O que aconteceu é que meses antes da minha irmã falecer, eu estava na melhor época da minha vida até então. Havia encontrado um grupo de amigos incrível. E até hoje, são esses os meus melhores amigos. Estava feliz, acabara de fundar o grêmio da escola, era reconhecido pela minha atuação, tive minha primeira namorada, haviam debates acalorados, uma sensação de que estávamos mudando o mundo. E na verdade, estávamos mudando a nós mesmos, marcas que ficaram para o resto das nossas vidas. Tempo bom, que deixou muitas saudades. Já escrevi um pouco sobre isso aqui e […]