Um ponto de vista sobre a industria de software

A revolução industrial é atribuída por muitos autores renomados como tendo sua origem na acumulação de capital e na evolução tecnológica. Eric Hobsbawm mostra em seu livro “A Era das Revoluções” um cenário muito diferente. Com centenas de dados históricos ele mostra como a Inglaterra iniciou a revolução industrial graças a um grande aumento na quantidade de mercados consumidores, provenientes não só da Europa, mas principalmente das colônias na Ásia, África e Américas. Assim a Inglaterra vendia roupa para um número cada vez maior de consumidores. Para produzir cada vez mais, a tecnologia teve de ser aprimorada e até mesmo o sistema educacional inglês teve de melhorar muito.

Já Henry Ford é considerado o pai da divisão do trabalho, com o conhecido Fordismo. Na verdade foi Taylor quem levou isso a beira do absurdo. De qualquer forma, a divisão do trabalho já existia. O mérito de Ford foi o de criar um produto mais acessível onde seus próprios funcionários pudessem comprar. E assim, novamente a expansão do mercado consumidor foi a chave do seu sucesso!

Bill Gates não criou softwares revolucionários. Seu sistema operacional foi todo baseado no CP/M que já existia e o Windows foi baseado no Macintosh da Apple. No entanto construiu um império fabuloso. Ninguém pode negar o seu sucesso comercial. A novidade introduzida pela Microsoft que passou desapercebida por muitos é o fato de existir um ritmo de lançamentos constante de seus softwares. Cada nova versão do software é lançada num ritmo cuidadosamente programado pela capacidade de vendas.

Quem acompanhou a evolução do DOS, sabe que depois da versão 3.3 tudo o que apareceu tinha cara de correção ou de firula. Particularmente a versão 6.x, a última lançada, não tinha nada de novo. Apenas alguns acessórios supérfluos. Assim foram os lançamentos do Windows, do Officce e outros softwares. A qualidade do software não é mais tão relevante. A imaturidade do software é resolvida depois de seu lançamento através de correções.

A indústria de software, para competir com a Microsoft passou a lançar versões novas de seus produtos a cada 1 ou 2 anos também. O resultado foi uma queda geral na qualidade do software e um público ávido por novos lançamentos. Ninguém fica satisfeito com a versão atual do seu software. Mesmo que você nem saiba quais são as vantagens da nova versão, você não vê a hora dela chegar. Assim a Microsoft ampliou o seu mercado fazendo com que seus clientes sejam compradores fiéis, independente da qualidade oferecida pelos seus novos produtos. Não é a toa que muitas empresas de software invistam mais na propaganda que no desenvolvimento!!!

A ampliação de mercado costuma ser um fator nocivo a sociedade. Não tem haver com a competição sadia, onde as empresas oferecem produtos cada vez melhores a preços cada vez mais competitivos, como nos livros de micro-economia. Tem haver com guerras, monopólios, patentes, fraudes, golpes de estado, etc. A tecnologia há muito não está a serviço da humanidade, está a serviço do Capital. As mais modernas técnicas de agricultura, como as sementes transgênicas são a fina flor da dominação econômica.

Se o Software Livre consegue prosperar na sociedade atual, é porque em algum momento a tecnologia pode e deve ser utilizada em prol da humanidade. A liberdade de saquear e matar nações inteiras ainda não conseguiu estirpar da sociedade a liberdade de ajudar ao próximo.

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